segunda-feira, 23 de abril de 2012

Noite Etíope no Território do Vinho

Olá, queridos amigos gourmets e gourmads!! 
Hoje vou compartilhar com vocês como foi a minha experiência gastronômica no evento Noite Etíope, que aconteceu no Território do Vinho, em Campo Grande, no dia 5 de Abril.







Eu sei que quase todo mundo aí tá pensando na piadinha básica: "E tem comida na Etiópia???", ou imaginando coisas como espetinho de grilo e escorpião frito, mas o fato é que a comida etíope é uma das mais desenvolvidas, ricas e mundialmente famosas da África. Existem restaurantes de comida etíope espalhados pela Europa, América do Norte e Ásia.
Injera é o prato nacional da Etiópia. É um pão esponjoso feito à mão a partir de um grão chamado teff, que cresce nas terras altas da Etiópia e é considerado o menor cereal do mundo. É comido com wot (ou wat), os tradicionais ensopados feitos com especiarias e carne ou legumes. Alguns wats populares: wat de Doro (frango), wat de Key (carneiro) e wat de Asa (peixe). Outro prato popular é Tibbs, carne picante e frita em manteiga.



injera fica diretamente em cima de um prato redondo grande ou bandeja e é coberto com wats colocados simetricamente em torno de um ponto central. Os vários wats são comidos com outros pedaços de injera, que são servidos num prato lateral. O injera é comido com a mão direita - rasgue um grande pedaço de injera nos pratos ao lado e use-o para pegar um dos diversos sabores de wat sobre o prato principal. Não coma com a mão esquerda! Na Etiópia, a comida é um dom de Deus respeitado e comer com a mão esquerda é um sinal de desrespeito.

Quem contou isso tudo para nós que estávamos no jantar, foi o Chef Paulo Machado, que havia passado uma temporada na Etiópia, a convite da Embaixada Brasileira, para divulgar a gastronomia do nosso país por aquelas terras, no Festival de Comida Brasileira na Etiópia. Junto com outros chefs que conhecem, cozinham e representam muito bem a nossa culinária, como a chef Mara Salles, eles ensinaram e aprenderam. E o Paulo trouxe isso para nós, sortudos campograndenses! 



O convite para cozinhar no Território do Vinho foi feito pelo sommelier e proprietário da casa, Diogo Wendling, que também selecionou os vinhos para acompanhar os pratos do evento. O Diogo explicou pra gente que a harmonização vinho-comida da noite seria feita por contraste, onde uma característica do vinho complementa uma característica oposta dos ingredientes da comida.


A animação da noite ficou garantida pelo som e clipes de músicas típicas, alegres e calorosas que tocaram durante todo o jantar, além de uma apresentação de dança ao final, que fez todos os convidados jantarem. Eu, inclusive, ficava me remexendo no sofá o tempo inteiro :-) Sabem aquelas músicas que a gente ouve e fica impossível permanecer parada?



Pois bem, vamos ao pratos!!
Para começar, teve surpresa ao paladar logo na entradinha. Um pãozinho que, pela cor parecia de trigo integral, mas que era feito de nigela, um grão da região, também conhecido como cominho preto. Muito aromático, explodindo em especiarias, foi servido com manteiga e com um molho de pimenta vindo diretamente lá da Etiópia. O Chef Paulo nos disse que lá eles têm o costume de comer o pão puro, mergulhado no molho de pimenta. E claro que foi assim que eu provei. Uma delícia!! Aquele prato que faz acordar suas papilas gustativas, de tantos sabores que não nos são comuns no dia a dia da comida brasileira.


Depois, Azifa: uma salada verde com ricota, acompanhada de lentilhas e mostarda. Mais uma surpresa, que o toque da mostarda e das outras especiarias imprimiu no prato.


Esses dois pratos foram harmonizados com um moscatel brasileiro, da vinícola Milantino. Imaginem um espumante suave e leve, mas que não é enjoativo como a grande maioria dos moscatel doceeeees que encontramos por aí. Casou bem com os pratos, quebrando o picante das especiarias, sem sumir na boca. Não só aprovado, como também tirou o meu preconceito contra espumantes feitos com essa uva.




O prato principal foi o Ye´Doro Wet: um frango marinado com especiarias etíopes acompanhado de arroz jasmine, injera e molho picante de grão de bico. Delicioso!! Na minha ignorância sobre comidas africanas, me lembrou comida indiana e tailandesa, tipo um frango ao curry. Mas o chef Paulo me explicou que são culinárias bastante diferentes e que apenas as achamos parecidas pelo fato de essas serem nossas referências mais próximas dessa comida aromática, picante e cheia de especiarias.


O prato principal foi acompanhado de um Riesling neozelandês, da vinícola Yealands Way. Um branco encorpado, aromático e untuoso, que fazia carinho na gargante e equilibrou perfeitamente o agridoce picante do prato principal. Pena que era só uma tacinha... queria mais! ;-)


Antes da sobremesa, um mimo para coroar a qualidade do café da Etiópia, considerada berço e produtora dos melhores grãos do mundo: grãos de café etíopes com chantily


E, para fechar com chave de ouro, a sobremesa, Muz Bemar: banana frita com mel, gergelim negro e sorvete com caramelo de baunilha fresca. Bom, vocês podem pensar que essa sobremesa tinha um sabor muito parecido com qualquer doce de buffet que a gente come aqui no Brasil. Mas quem conhece o gosto divino desses pontinhos pretos no caramelo, a polpa da baunilha fresca, sabe o porquê da minha alegria. Meus olhinhos brilharam e meu estômago ficou muuuito satisfeito!

Acompanhando a sobremesa, um late harvest da Concha y Toro, um vinho de sobremesa que o Diogo encontrou para fazer o papel do Tej, um vinho de mel frequentemente bebidos nos bares da Etiópia.


Enfim, como o chef Paulo explicou, a comida etíope foi levemente redesenhada aqui: com apresentação e pimenta a gosto do paladar brasileiro. Mas ele preservou o máximo possível das características, em especial a simplicidade e a riqueza de aromas e sabores. Foi uma experiência muito rica ter este primeiro contato com a gastronomia da Etiópia e eu espero que não sejo o último.

Mais uma vez, meus parabéns e meus agradecimentos ao chef Paulo e ao Diogo pela iniciativa e por presentear os moradores de Campo Grande com essa bela noite. A culinária é mais um motivo para conhecermos melhor o país que é mãe e pai de todo ser humano :-)



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